sexta-feira, 26 de março de 2010

Anastasia assume governo com discurso afinado com PSDB


Conhecido por ser o gerente do governo Aécio Neves (PSDB), o vice-governador Antonio Anastasia (PSDB) que toma posse como governador na quarta-feira, deixa o discurso de gestão de lado e mostra que já está afinado para a campanha à reeleição, que começa em julho, depois da confirmação de seu nome como candidato em convenção. Filiado ao PSDB em 2005, Anastasia garante ter recebido o carimbo de tucano bem antes, já que desde 1995 tem participado de governos do partido. Foi secretário-executivo dos ministérios do Trabalho e da Justiça, no governo Fernando Henrique Cardoso. Apesar de salientar que os mineiros ficaram frustrados em não ter o governador Aécio como candidato a presidente pelo partido, Anastasia garante empenho na campanha de José Serra ao Planalto.


Reconhece que o discurso da gestão é difícil de ser entendido pela população, mas acredita que a experiência de professor – é mestre em Direito Administrativo – o ajudará a mostrar que sem arrumar a casa é impossível implementar políticas públicas. Em relação ao reajuste de 10%, em média, para o funcionalismo público, garante que o anúncio, às vésperas da campanha não foi eleitoreiro. Só não foi possível antes devido à violenta queda de receita no ano passado. Anastasia ainda acredita que o PMDB possa se aliar ao PSDB, argumentando que ninguém acreditava que PSDB e PT estariam juntos em 2008 na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte.


Quando será definido o candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo senhor?

A escolha do vice é resultado de um arco de alianças. Ninguém é candidato sozinho. Da força política que apoia o nosso governo será escolhido o candidato a vice-governador, de acordo com as circunstâncias, o perfil, as condições de se somar do ponto de vista eleitoral. A ansiedade dos partidos é natural mas essa composição tem que ser feita no momento certo, até porque a oposição ainda nem definiu sua candidatura. Temos que aguardar para que esse jogo seja feito com cuidado e atenção.


Já se sabia que o senhor assumiria o governo de Minas desde que o governador Aécio Neves formou uma chapa puro sangue para a reeleição. Como foram esses quatro anos de espera?


Sou funcionário público do estado há mais de 25 anos, fui secretário de estado muito jovem, diretor da Fundação João Pinheiro com 27 anos, fui secretário no primeiro mandato e vice-governador, tenho todo o preparo e
conhecimento da máquina do estado. Mas evidente que o exercício do cargo de governador tem um degrau acima e para isso precisamos de equilíbrio, serenidade, responsabilidade, ética, probidade, atributos que encontramos no governador Aécio e tento me espelhar nele. Sou uma pessoa simples, a posse não altera muito o meu lado psicológico. Tudo na vida é uma mutação, temos que agir com naturalidade. O senhor filiou-se ao PSDB, um ano antes da eleição de 2006, cumprindo o prazo exigido pela lei eleitoral.

O senhor é um homem de partido, tem o carimbo do PSDB?


Tenho. Apesar de ter me filiado relativamente há poucos anos, atuo em governos do PSDB, desde 1995, identifico-me muito com os princípios do PSDB, da responsabilidade e da gestão eficiente, tenho identidade plena com o partido. Ainda sabendo que em Minas, as circunstâncias políticas, diversamente de outros estados, permitem uma composição mais ampla, o que é bom.

Como homem de partido, o senhor diria que a campanha presidencial do PSDB está atrasada?

Eu gostaria que o candidato a presidente pelo PSDB fosse Aécio Neves, não só eu, como todos os mineiros e muitos brasileiros. O governador fez uma proposta, o partido acabou seguindo por outra trilha, o governador Serra deverá ser indicado em 10 de abril o pré-candidato e vai ter todo o nosso apoio e trabalho. Serra tem um grande conhecimento, ao contrário de mim que as pessoas não conhecem por nunca ter sido candidato. No caso dele, o que é fundamental são as propostas, as ideias, o que vai apresentado durante a campanha que só começa em julho. Ele está no ritmo que acha correto.


O que senhor tem coletado nas viagens pelo interior do sentimento do mineiro em relação à saída de Aécio da disputa presidencial?


Como eu, acho que todos os mineiros queriam a candidatura do governador. Não posso arriscar, mas acho que ele teria 95% dos votos dos mineiros, quase uma unanimidade. É claro que as pessoas se sentem um pouco frustradas, porque gostariam de vê-lo candidato, mas tenho certeza absoluta que se não é agora, será em outra oportunidade. Aécio é muito jovem, será presidente do Brasil, faz parte de um certo destino, de uma certa trajetória. Quem sabe em 2014, 2018? Essa candidatura ocorrerá mais cedo ou mais tarde e, como tem um grande carisma, será eleito. Nesse meio tempo, nosso partido tem um candidato, que é o Serra, e ele será também um grande presidente.


Serra então terá muito trabalho na campanha em Minas?

As pesquisas indicam que, por ora, ele tem grande vantagem. Com o apoio do governador Aécio Neves terá um bom desempenho.
Esse apoio está mais do que certo?


Sim. O governador é um homem de partido e quer demonstrar que está empenhado na campanha, por que é importante para o partido e para o país.


Na campanha em Minas, será difícil vencer se o presidente Lula conseguir unir PT e PMDB?


Temos que cuidar do nosso campo, fortalecê-lo. A campanha, contra quem quer que seja, será difícil. A eleição em Minas é tradicionalmente disputada. As do governador Aécio, com margem muito grande de vitória no primeiro turno, foram exceções. A base política de apoio do governo é muito forte e vai se manter unida, vamos para a campanha com a situação bastante articulada, o meu desconhecimento vai diminuir a partir da assunção do governo e vai desaparecer completamente quando a campanha para a TV começar. Não vamos subestimar nossos adversários, mas nossas propostas serão melhores.


Ainda há possibilidade de aliança com o PMDB?


É possível, política muda com muita facilidade. Quem poderia imaginar que PT e PSDB fossem se coligar para a eleição de Márcio Lacerda (PSB), na Prefeitura de Belo Horizonte? E aconteceu. Essas discussões continuam havendo entre os presidentes dos partidos. Vamos aguardar.


A comparação da sua candidatura com a da ministra Dilma Rousseff (PT), por serem duas pessoas que nunca passaram pelo crivo das urnas, incomoda?

Não há incômodo ou demérito em não ter disputado eleição. A situação do ex-governador Eduardo Azeredo foi igual a minha. Tinha sido vice-prefeito de Belo Horizonte, quando Pimenta da Veiga saiu, assumiu a prefeitura e depois candidatou-se ao governo. Temos vários outros nomes aqui e em outros estados, como de Walfrido Mares Guia, que foi vice-governador sem nunca ter se candidatado anteriormente. A pessoa tem que começar um dia por alguma circunstância. Nos comparam também porque a ministra tem como eu uma origem chamada de técnica o que acho artificial, por que ela também tem uma atividade política muito grande. Acho que as semelhanças param aí. Em termos de pensamento, visão do Estado, somos diferentes até porque os partidos são diferentes, temos trajetórias distintas, pertencemos a gerações diferentes. No grosso, existem diferenças bastante profundas.


O senhor acredita na comparação de concepção de estado durante a campanha?


Não acredito até porque essa discussão é um pouco falsa. Não há grande distinção dos modelos de estado dos governas FHC e Lula. O fundamento é a política macroeconômica, que é a mesma. Alguns programas do presidente Lula avançaram, como na distribuição de renda, porque as circunstâncias econômicas ajudaram. Noutras áreas, como na saúde, houve piora. Há uma continuidade que o Plano Real surgiu da coragem do presidente Itamar Franco. Não acredito que haja esse divórcio entre concepções de estado, acho que há mais discurso do que ação. As pessoas não querem saber se o estado é grande ou pequeno, intervencionista ou não, essa é uma história da carochinha, do passado. O que todos os governos procuram pelo mundo afora, é o estado eficiente, o que funciona. O que ofereça resultado. Por isso, nossa obsessão pela eficiência. Muitos estados, inclusive administrados por governadores de oposição a nós, nos copiaram literalmente.


Como Lula e Aécio, o senhor vê no futuro PSDB e PT juntos?


Existem pontos convergentes e divergentes. Nós do PSDB temos muito mais interesse na profissionalização do estado. São pontos convergentes, as políticas sociais, de intervenção a favor das pessoas mais desguarnecidas.


A relação do governador Aécio com Lula transcende a institucional. Como será a sua relação com Lula como governador?


Não tenho com o presidente Lula a proximidade que o governador Aécio tem de uma amizade pessoal que decorre do tempo da Constituinte. Tenho uma relação respeitosa, já pedi audiência com o presidente na primeira semana em que assumir o governo. As relações administrativas são muito boas com o governo federal e não há motivo para alterar isso, mesmo com a campanha eleitoral. Em Minas, somos um povo mais ameno, até os candidatos do PT que tem se colocado, Fernando Pimentel e Patrus Ananias, têm uma boa relação de amizade conosco.


O modelo de gestão do PSDB trata o estado como uma empresa?

Não. É impossível administrar o estado como uma empresa. A empresa pertence a um proprietário que a administra visando corretamente o lucro. O estado não tem dono. São administradores provisórios e tem como objetivo primordial a boa prestação dos serviços públicos, custe o que custar. O que as pessoas confundem é que podemos trazer do setor privado para o público instrumentos de gestão devidamente adaptados. O setor privado também recebe instrumentos de gestão do setor público. Toda grande empresa não compra livremente no mercado, faz coleta de preços, copiando as licitações públicas. São mundos distintos, que se cooperam.


O discurso da gestão não é difícil para a campanha eleitoral?

Como discurso é difícil, mas como ação é fácil. Se mostramos às pessoas que para asfaltar estradas, construir casas, reformar escolas, melhorar indicadores de segurança pública é preciso ter por detrás uma base da boa administração. É como no serviço doméstico da nossa casa. Se vivermos com uma casa anarquizada, de pernas para o ar, com as camas desarrumadas, os móveis empilhados, não é possível trabalhar corretamente. A discussão não será a gestão, mas as políticas públicas.


Como o senhor responde às críticas da oposição e do funcionalismo de que o reajuste foi dado agora, a véspera da campanha eleitoral?


No primeiro mandato, colocamos a casa em ordem. Tínhamos dificuldade no pagamento regular do funcionalismo, do 13º salário, das verbas retidas e colocamos em dia. Criamos os planos de carreira, demos aumentos para várias categorias. Nos dois governos, admitimos por concurso 50 mil servidores e regularizamos a situação jurídica de outros 125 mil. Como o número de servidores é expressivo, qualquer reajuste tem impacto muito grande na nossa receita. Quando íamos dar um passo maior, em 2009, a receita desabou, perdemos quase R$ 2 bilhões de receita. Não está sendo dado reajuste na véspera da eleição. A receita caiu violentamente até outubro e em novembro do ano passado começou a melhorar. Tínhamos que ter perspectiva se ia melhorar mesmo. Aguardamos até fevereiro, quando fechou a receita, vimos que seria possível conceder aumento.

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